sexta-feira, 25 de março de 2011

Carnaval em Minas

Passei meu Carnaval em Minas, circulando entre Tiradentes, São João Del Rey e BH. Mesmo com uma chuva que não tirou o bloco da rua em quase nenhum momento, eu me diverti bastante. Fui sozinha e pude então seguir meu ritmo, curtir as cidades e conversar muito com as pessoas, coisa que adoro. Apaixonada que sou pelo artesanato mineiro, consegui garimpar coisas muito interessantes, principalmente bordados, meu ponto fraco.

Eu havia visitado Tiradentes há alguns anos, em outro momento da minha vida. Lembro que estava a caminho das cidades históricas e em Tiradentes permanecemos apenas algumas horas, o suficiente para me deixar encantada. Desde então, acalentava o sonho de voltar com calma e andar sem pressa, a pé ou de Maria Fumaça. Decidi então vir passar o Carnaval.


Já faz algum tempo que não sei o que é viajar para lugares lotados, com gente por toda parte. Mesmo sabendo que seria o caso, resolvi vir assim mesmo e não me arrependi. Tudo bem, rodoviária lotada, gente por toda parte, engarrafamentos, mas se " a alma não é pequena", tudo acaba valendo a pena.

As cidades são bem conservadas, relativamente tranquilas, com um astral muito gostoso. Era examente isso que eu estava procurando, uma mistura de descanso e novidades. Visitei uma comunidade chamada "Bichinho", onde se encontra uma vila de artesãos que vendem seus trabalhos por um preço mais em conta. Encontrei lá uma artesã cujos trabalhos eu já havia comprado em São Paulo e Brasília. São casinhas de madeira que reproduzem todo tipo de estabelecimento. Foi muito legal conhecer alguém cujo trabalho adorna minha casa e saber toda a história da criação das casinhas.


Sobre a culinária mineira, geralmente procuro evitar os pratos da linha "Artérias em pânico", e provando aqui e ali, descobri um prato delicioso: O Ora-pro-nóbis. Na verdade, já tinha ouvido falar nesse prato pela amiga Ju, que é mineira, claro. Só que geralmente ele vem acompanhado de frango e eu pedi puro, quer dizer, as folhas, simplesmente temperadas e cozidas. Que sabor! É uma planta rica em proteínas que apresenta folhas suculentas e comestíveis e tem flores lindas que duram apenas um dia. Tem 25,4% de proteína; vitaminas A, B e C; minerais como cálcio, fósforo e ferro. Passa ao alimento bela cor verde inclusive em pão e macarrão, enriquece saladas, refogados, sopas, omeletes, tortas e o arroz-com-feijão. Descobri tudo isso na rede e procurei a receita para quem quiser se aventurar:
Frango com Ora-Pro-Nóbis
Ingredientes:
2 1/2 kg de frango picado
6 dentes alho amassados
1 colher (sopa) de colorau
1 xícara óleo de soja
2 xícaras de caldo de galinha
2 maços ora-pro-nóbis (sem talo)
Sal
Preparo:
Lave bem o frango com limão.
Coloque o alho e óleo em uma panela e junte o colorau.
Refogue o frango até prefritar. Cubra com água até cozinhar bem.
Misture o ora-pro-nóbis, tampe a panela por cinco minutos sem mexer.
Sirva com arroz e angu. Rende 08 porções

Além disso, pude tirar fotos com roupas de época, coisa que já fiz e queria muito fazer de novo. Desta vez, na estação de São João, andando entre trens e vagões. Até fiz uma produção em homenagem ao blog, com mala e tudo. Gostei demais. Resumindo, valeu!

Sentimento uruguaio

Recebi de um amigo querido, ao saber que estou de mala pronta para Montevidéu. Criada por um uruguaio, Leo Masliah, sob título “Birromes y servilletas”,essa canção foi vertida para o português pelo carioca Carlos Sandroni, com o nome “Guardanapos de papel”, quase uma tradução literal da letra original.
Tem uma versão musicada de Milton também: http://mais.uol.com.br/view/152113

Sem dúvida, lindo fundo musical para meus passeios na próxima semana.


Biromes Y Servilletas

En Montevideo hay poetas, poetas, poetas
Que si bombos ni trompetas, trompetas, trompetas
...Van saliendo de recónditos altillos, altillos, Altillos
De paredes de silencios, de redonda con puntillo
(..)
Andan por las calles escribiendo, y viendo y viendo
Lo que vem lo van diciendo y siendo y siendo
Ellos poetas a la vez que se pasean, pasean, pasean
Van contando lo que vem y lo que no, lo fantesean
(..)
Miran para el cielo los poetas, poetas, poetas
Como si fueran saetas, saetas, saetas
Arrojadas al espacio que un rodeo, rodeo, rodeo
Hiciera regresar para clavarlas en Montevideo

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cinzas

Então um dia ela decidiu.
Cansada de ver no armário caixas e mais caixas com fotos de um passado que não voltaria, ela resolveu dar a este arquivo sentimental um destino. É bem verdade que as caixas já não eram tão incômodas como no princípio, quando só o fato de vê-las ali, mesmo sem abri-las, já causava uma dor enorme. Não, não era mais assim. Agora o que elas, as caixas,  provocavam, era um certo desconforto,  uma inadequação em estarem ainda ali, no seu armário.
Não foi surprêsa quando os muitos anos de vida em comum deram para encher uma mala de viagem de tamanho médio. Separar as fotos doeu. Nossa, como eu mudei! Lembro tanto deste dia! Este Natal foi tão feliz... Miserável, aqui ele já estava com ela e eu não sabia. Rasgar foi dando um alívio.
Querosene escorreu pelos sorrisos, manchou beijos, deformou viagens, umedeceu festas.
As primeiras chamas foram tímidas. Depois, como se solicitando permissão do universo, dominaram tudo.
Uma fogueira se formou, e ela sentiu tontura durante todo o tempo em que as chamas arderam.
Cinzas.
Como num filme as cenas se sucedem. Ela suspira. Se tívéssemos consciência de que tudo pode um dia virar cinzas, de que forma viveríamos? Como colocar no centro de nossa vida algo que pode um dia virar cinzas?
Olhando fixamente para aquele fogo, jurou que nunca mais mendigaria o amor de ninguém. Nunca mais justificaria atos injustificáveis de homem nenhum. Nunca mais se adaptaria a situações complicadas, nunca mais faria loucuras justificando-as como atos de amor. Com o mesmo ímpeto tomou outras tantas decisões, destas que nestes momentos todas as mulheres tomam, mesmo que seja para repensar depois. Tudo bem, fazia parte.
Lembrou de Cazuza. Não, raspas e restos não mais lhe interessavam.
No caminho de volta para casa, fez uma força enorme e foi olhando para o céu, lindo, azul, a brisa suave. Sentia dor nas costas e uma moleza enorme no corpo.
Cinzas.
Em casa tomou um banho purificador, perfumou-se com alfazema. Vestiu uma roupa bonita. Foi melhorando.
Havia sentido uma enorme vontade de livrar-se de todas aquelas recordações antes de seguir para uma viagem de autodescoberta. Esperava que agora as trilhas lhe mostrassem novos caminhos. As cachoeiras, quem sabe,  restaurariam sua energia. A força das águas lavaria tudo aquilo que não lhe servisse mais.
Cada vez mais ela se convencia de que ser mulher é antes de tudo,  um ato de coragem.



quarta-feira, 16 de março de 2011

Reflexões de uma mulher no espelho

                                            Diego Velásquez, Vênus ao Espelho (1647)


Nunca esquecerei o olhar daquela mulher.
Aparentemente não tinha nada de especial. Meio baixinha, meio cheinha, como tantas outras.
O cabelo meio crespo e assanhado, como tantos outros.
Mas o olhar...
Ah, o olhar...
Outro detalhe que a diferenciava das outras era que ela estava nua, e me olhava com um olhar entre surpreso e feliz. Eu poderia até jurar ter visto naqueles olhos uma ou duas lágrimas. Aí notei que aquela mulher, apesar de nua, estava emocionada. Como nada dizia, tentei ler em seus olhos que sentimento seria esse, capaz de emocionar aquela mulher que me olhava nua. Primeiro seus olhos me disseram para não me preocupar, pois ela estava em paz. Depois li em seus olhos que aquela mulher havia vivenciado um rito de passagem. E que, apesar de toda a ansiedade que antecedeu esse momento, ele acabou sendo um momento imensamente feliz. Notei sua aparência cansada, e ela me acenou positivamente. Seu corpo estava cansado, mas seu coração estava leve como há muito tempo ela não experimentava.
E que som era este, vindo não sei de onde? Seria chuva?
Nesta hora, ela me sinalizou para que eu não fizesse barulho, pois não estava só. Descobri aí que o som vinha de um chuveiro. Quem se banharia lá? Nesta hora, então, eis que surge o homem com o qual ela havia dividido aquele momento.
Notei sua pele, o corpo forte, a expressão tranquila, a forma atenciosa de tratá-la e abraçá-la. Num instante em que ele se distraiu, ela me confessou que havia experimentado coisas jamais antes sentidas! Também me relatou que não havia o que temer; aquele homem, escolhido por ela para ser seu parceiro no rito de passagem, jamais lhe faria mal algum. Sensível, soube compreendê-la e, num determinado momento, afirmou ter visto sua aura nas cores azul e violeta. Selaram um pacto de amizade e, como se sabendo que será pouco o tempo do encantamento, conversaram longa e detidamente sobre suas vidas. A sensação que ela teve foi que tudo fazia parte de um roteiro de um filme e que cada um desempenhava ali um papel já traçado em algum lugar do universo.
Ela jura que saiu de lá totalmente apaixonada. Não! Por ele, não! Por ela!
Sim, porque foi grande o amor que ela sentiu ao ouvir a própria voz dizendo a ele como e onde queria que a tocasse, beijasse... O amor virou paixão quando ouviu a própria voz pedir mais e mais e mais... Ao ouvir os próprios gritos, ela soube que finalmente podia assumir o amor, que ela se amava e muito, e que, diferente de outros amores, este jamais teria fim...
Outra coisa ela me disse, mas achei difícil de acreditar. Ela jurou que, num determinado momento, enquanto ele se banhava, ao se olhar no espelho, nua, deitada naquela cama redonda, viu, como num clipe antigo de Michael Jackson, seu rosto se transformar em vários outros: viu surgirem as fisionomias de todas as suas amigas, depois viu surgirem rostos de várias mulheres desconhecidas, novas e velhas, negras e brancas, ricas e pobres. Soube então que cada mulher ao se descobrir, ao se permitir um rito de passagem buscando sua transformação, está na verdade transformando a todas as mulheres, seres ligados por um laço invisível na busca da realização, da paz, do amor...
Como já disse, nunca esquecerei o olhar daquela mulher.
Depois disto já a encontrei várias vezes, e seu olhar não mudou. É como se agora carregasse com ela uma força antes desconhecida, uma paz, uma tranquilidade... É como se soubesse que outros ritos virão, e que, a cada um deles, uma nova mulher vai surgir. Mais segura, mais consciente, mais feliz...
Mais mulher.

Uma experiência no Amazonas


Estar no Amazonas é uma experiência única.
A viagem é também para dentro: conhecemos novos sabores e paisagens, novas formas de pensar e ver o mundo. Rompemos nossos próprios preconceitos.
Manaus, cidade que tentei entender nos dois dias em que lá estive. Espalhada como os braços do rio, quente e úmida mas receptiva, acolhedora.
O encontro dos rios Negro e Solimões ensina a convivência próxima dos diferentes: Os rios correm 17 quilômetros lado a lado e não se misturam...


O curso BB Educar no assentamento, esta sim, a grande aventura.
Cinco dias sem espelho, sem celular, sem internet, sem "rádio e sem notícia das terra civilizada".


Calor de mais de 40 graus, transporte escasso, mas a turma super motivada.
Histórias de onças, comuns na região.
Uma aluna me contou que certo dia, ouviu um alvoroço no galinheiro. Pensou que fosse ladrão. Ao chegar lá, surpresa: Uma onça!
Perguntei de imediato o que ela fez. Tranquila me respondeu que após o tiro certeiro dado pelo marido, ela não pestanejou: Fatiou a invasora, fritou com bastante alho e cebola, chamou os vizinhos e fizeram a festa. Coisas da floresta...

Banhos ao ar livre. De manhã bem cedo, de biquini tomo meu banho no chuveiro do lado de fora da escola. Inesquecível a sensação, água gelada correndo sobre o corpo, tenho como cenário a floresta. Corajosa, ainda me arrisquei num mergulho no igarapé que conheci num passeio com os alunos.

Tantos sabores...
Pacu, tambaqui, pirarucu, tucunaré.
Açaí,cupuaçu,murici...o que vier.


Tanto o que lembrar...
Formamos 24 alfabetizadores.
Atuei com Mariza, que só conhecia de vista e foi muito, muito legal.
Mulher guerreira, doce, séria e engraçada.
Os alunos fizeram uma apresentação para nos homenagear relatando o que o curso representou para eles.
Ficou lindo!

Algumas falas de alunos:

Marisa (agente de edemias, ou seja, analisa as placas para ver se a pessoa contraiu malária)
"Quando chego no INCRA tem gente que diz que eu não sou assentada. Só por que ando de salto alto! Pensam que assentado tem que andar sujo de terra e desarrumado. Eu não! Sou assentada mas ando nos trinque!

Olga ( agricultora, assistiu ao curso com dois tumores, levantava de vez em quando, respirava fundo. voltava)
"Professora Vânia, eu amo você muito. Vou rezar pra Deus todo dia e ele vai te fazer muito feliz"

Seu Santana (agricultor)
"Eu penso que se a gente não tem transporte melhor é porque a gente não se une".

Seu "baiano" ( motorista do ônibus que transporta os alunos, criador de abelhas)
"Quero te apresentar... minha abelha rainha" - ao me apresentar a sua esposa.

Saudades de todos.

Tarumã-Mirim (AM), agosto de 2009




domingo, 13 de março de 2011

Parabéns para o Blog!


Queridos amigos e amigas,

Hoje é um dia muito especial. Há exatamente 1 ano, nascia o http://www.todemalapronta.blogspot.com/.
Inicialmente, a idéia era falar apenas sobre viagens, mas as  histórias teimavam em sair. Os personagens reais ou quase, reclamavam seu espaço, queriam a todo custo vir a público.
Entreguei os pontos entregando-me ao teclado.
Desde então, foram muitas as partilhas, trocas, comentários e ensinamentos que recebi de todos aqueles que de alguma forma me estimularam a manter este espaço. 
O Blog completa um ano com cinquenta e quatro textos, mais de tres mil acessos de pessoas distribuidas por cento e noventa e cinco localidades distintas. 
De coração, só tenho a dizer:
Muito obrigado!


Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...