sexta-feira, 9 de julho de 2010

Partidas


Numa das músicas de Gil tem um verso que diz que "se a morte faz parte da vida, e se vale a pena viver, então morrer vale a pena, se a gente teve o tempo para crescer". Por mais que saibamos que a morte faz parte da vida, creio que nunca nos sentimos de fato preparados para o momento em que ela vem ao nosso encontro, tirando do nosso convívio pessoas que nos são caras.
A minha  primeira lembrança de perda marcante foi aos doze anos. Eu cursava o segundo grau e estava decidida a ser professora de Português. Tínhamos uma excelente professora. Jovem, bonita, destoando de certa forma das demais mestras, muitas das quais senhoras de idade e, como se tratava de um colégio religioso, algumas freiras. Nas férias do meio do ano,  nos despedimos com uma festa junina para o descanso de aproximadamente um mês. No retorno, ao chegarmos na escola, nos deparamos com uma movimentação incomum: as pessoas falavam baixo, algumas professoras choravam, a aula não começava. Após algumas horas de inquietação, a Diretora comparece a nossa sala e nos comunica com pesar que nossa querida professora que estava grávida de sete meses, fora vitima de um acidente automobilístico e não resistira.A comoção foi geral e apesar da orientação da escola, de que só os pais fossem ao sepultamento, minha mãe me levou.

No velório, fiquei durante algum tempo contemplando minha professora que parecia adormecida, distante de toda a dor e sofrimento que  fazem parte destas situações. O rosto sereno, em meio ao tule que ornamentava seu rosto. Única aluna da escola, ouvi da professora de Geografia que eu era muito querida por ambas e que elas se orgulhavam de ter uma aluna como eu. Sai de lá triste, mas sem nenhum trauma.

Há alguns dias, novamente vivi sentimentos como aquele, curiosamente duas vezes num mesmo dia. A perplexidade de todos diante da decisão tomada por um adolescente de acabar com a própria vida e a dor de uma amiga diante da partida do pai após onze meses de internação e luta. Nas duas situações, a saudade dos que ficam, as lembranças dos momentos vividos,a solidariedade, os abraços silenciosos, único amparo possível nos momentos onde a dor é tanta que nenhum palavra traz consolo.

Tenho observado no nosso inverno brasiliense as cores dos ipês. Por causa deles ando de máquina fotográfica na bolsa, captando os mais frondosos. Perto da minha casa um deles, totalmente vestido de cor de rosa forra o chão constantemente com suas flores. Representante da vida, do nascer, viver e morrer. Testemunha silenciosa dos ciclos da vida.


Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...