domingo, 21 de março de 2010

A namorada


                                                                                                                  Brasília, 12 de junho de 2008


No ano de 2006 em função do trabalho que desenvolvia em Salvador tive o privilégio de conhecer um abrigo de idosos chamado "Abrigo São Gabriel de Idosos de Deus". Havíamos decidido “adotar” uma instituição para receber a nossa ajuda e logo na primeira visita, essa nos conquistou.

Passamos então a divulgar o trabalho ali desenvolvido e uma vez por mês recolhíamos doações com os demais colegas da empresa para repassar ao Abrigo nas nossas visitas mensais, sempre aos sábados. Assim fomos conhecendo melhor as necessidades, o histórico e funcionamento da casa. Os idosos eram carentes, geralmente abandonados pelas famílias, desprovidos de documentação. Alguns eram portadores de doenças crônicas ou com incapacidades físicas. A eles nada mais restava além da dedicação do Irmão Gabriel e dos colaboradores que ajudavam a manter a casa.

Entre os idosos, uma senhora me despertou a atenção desde a minha primeira visita.

Muito bonitinha, mais ou menos setenta anos, cabelos brancos bem curtinhos, sempre penteada e perfumada. Ela sempre se emocionava com a nossa chegada. Segurava meu rosto com as mãos e repetia um refrão que não dava para entender direito, eram sílabas repetidas ao mesmo tempo em que seu corpo balançava de um lado para outro...

As visitas se sucediam e eu me sentia cada vez mais próxima a ela.

Um dia, quando eu e minha colega chegamos ao Abrigo, percebemos que nossa amiga estava com uma agitação fora do normal, gesticulando, chorando muito.

Uma das enfermeiras se aproximou, creio que ela foi medicada e aos poucos se acalmou. Esperamos um pouco, chegamos perto dela, tentando ajudar de alguma forma.

Para nossa surpresa, ela falou com voz clara e pausada, com lágrimas nos olhos:

- Sabe o que eu queria? Eu queria era ser namorada...

De vez em quando penso naquela senhora com carinho e saudade. Afinal, nem sei se ela ainda está entre nós. E sempre no dia 12 de junho lembro daquele momento, em que uma senhora idosa abandonada num abrigo expôs o seu desejo que é na verdade o desejo de todas as mulheres.





Um comentário:

  1. Essa história lembra uma vez que minha mãe e eu visitamos um lar de velhinhos. Saímos de lá muito emocionadas...

    ResponderExcluir

Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...