sábado, 13 de março de 2010

A Mulher de roxo


Viví na minha infância cercada de personagens folclóricos. Entre eles, a "Mulher de roxo".

Nunca soube ao certo a história daquela estranha mulher que andava pelas ruas de Salvador, principalmente na Rua Chile, centro comercial a céu aberto que não resistiu à chegada dos Shoppings.

Não importava quantos graus o termômetro marcasse. Ela sempre usava um vestido longo com um inacreditável véu do mesmo tecido: pelúcia. Sim, pelúcia, a mesma usada nos ursos, cachorrinhos e outros bichos. As cores variavam , mas geralmente era ou preto, ou roxo. A boca sempre pintada com um batom vermelho que ultrapassava em muito o limite dos lábios, o que dava a ela uma expressão um tanto quanto trágica.

Bem,ela mendigava sempre entoando o mesmo refrão: "Eu quero um dinheirinho pra comprar o meu almoço", dito numa voz alta e estridente. Detalhe: não aceitava moedas, para ela aquilo não era dinheiro.

Muitas eram as lendas que a cercavam. Lembro da duas mais difundidas. A primeira dizia que a Mulher de Roxo era milionária, que perdeu tudo, enlouqueceu e passou a vagar pelas ruas sem destino. A segunda dizia que tratava-se de uma antiga dona de bordel, e que com o final do negócio, também teria perdido o juízo, etc, etc.

Já na adolescência, lembro que um cineasta baiano daqueles bem alternativos resolveu fazer um documentário sobre esse emblemático personagem. Se chegou a fazê-lo, confesso que não sei.

Nunca corrí dela nas ruas, nunca soube de qualquer ato de violência por ela praticado.Quando, pela mão de minha mãe, eu entrava na Sloper, point da moda em Salvador e local onde a Mulher de Roxo geralmente ficava, nunca sentí medo, pelo contrário. Afinal, desde que me entendo por gente as pessoas me interessam e, no caminho de volta para casa, tentava entender aquela mulher, para mim até hoje um mistério.

Foto retirada de http://blogdogutemberg.blogspot.com

6 comentários:

  1. Vânia, que felicidade ler seus pensamentos...
    A mulher de roxo também povoou de interrogações a minha vida e por um tempo também me possuiu no folclore doméstico, pois meu pai, seu Beijinho, ao perceber minha preferência por aquela cor, às vezes me chamava de "mulher de roxo", prá deleite das minhas irmãzinhas (não tão "zinhas" assim, mas que adoravam me zoar!!!). Hoje, além da lembrança sempre muito vívida daquela folclórica figura, me assusta a sensação angustiante da calor que me dava ao vê-la envolta em toda aquela pelúcia dos pés á cabeça... Se fosse hoje em dia, em tempos de cloria demasiada, talvez a apelidassem de "microondas roxo"... vixe!!!

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  2. Tia Vânia, você já viu a senhora de branco aqui em Brasília? É uma senhora de cabelos grandes, volumosos e brancos que anda pelas ruas de Brasília. Eu, ultimamente, a encontrei na 208 sul, no meio de uma tesourinha de alguma quadra que eu não lembro, na 103 sul e na entrada da segunda ponte para o lago sul. Tenho um amigo que a viu no meio do setor de embaixadas às 22h. O susto que ele levou ao ver a senhora foi tão grande que ele pensou que tinha morrido. Sério! Seríssimo!

    Beijão

    Natasha

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  3. Essas histórias são muito intrigantes.
    Falávamos sobre mendigos ontem, né? Qual a história dessas pessoas, o que viveram que os levaram a essa condição, o que o futuro as reserva?
    Seu post me levou a uma rápida pesquisa na internet e é interessante o carinho que as pessoas falam dessa senhora.
    Interessante como as pessoas ficam marcadas em nossas vidas, né?

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  4. Vânia,

    Li esse post no seu blog e fico impressionada com a sua facilidade em escrever, em relatar coisas tão presentes em nossa infancia, mas que eu mesma não sei falar o que sinto e vc faz isso, e muito bem.
    Parabens mais uma vez.
    Bjos

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  5. Vania, fico impressionada como o universo da sua infancia parece com o meu. Você consegue trazer as cores , as emoções, as reflexões que eram também minhas, como se fosse a parte mais vívida da minha própria memória. Parece que nos encontramos meninas: Merces, Sloper, rua Chile... talvez vc se recorde mais do que eu das perguntas que tinha. talvez vc hoje responda á menina que foi. Responde também a mim, lembrando antes, as minhas perguntas.Adoro ler vc , pois assim também me leio. Bjo!

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  6. Vania,
    vc e d+. Vai no poço desencavar reliquias,kkkkkkk. Amei...

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Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...