sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Trinta anos de trabalho

Será o tempo que passa rápido mesmo ou será que nós, que  não percebemos o seu ritmo,  constantemente nos pegamos surpresos a cada fato? 

Não diria exatamente que estou surpresa, mas pensando bem, esse tempo passou muito  rápido. Pois já se passaram mais de trinta anos que entrei no mercado de trabalho, trinta anos que tive a minha carteira assinada.
Fui criada para trabalhar. Minha mãe, que sempre foi dona de casa, não queria para as duas filhas um destino semelhante. Desde crianças ouvíamos de minha mãe a expressão " quando você trabalhar"  ao invés do "quando você casar". Assim fomos criadas. Casamento, se acontecesse, tudo bem. Mas o trabalho, este sim era o nosso objetivo.

Minha irmã assim que entrou na faculdade, aos dezenove anos, passou no seu primeiro concurso público. Sim, também havia isso. Como nosso pai sempre foi autônomo, minha mãe nos queria com segurança e salário no dia certo, sem sobressaltos. Então minha irmã começou a dura vida de conciliar oito horas de trabalho com as aulas na Universidade Federal, onde as aulas acontecem em todos os turnos. Ainda no segundo grau, a via chorar em casa pela perseguição sofrida cada vez que pedia ao chefe autorização para ir para uma aula ou prova. Decidi que não queria isso para min.

Bem, o ano de 1979 chegou, e com ele o vestibular. Aprovada na Federal e na Católica, fui conversar com meu pai, pois eu havia decidido que cursaria a Católica, cujas aulas eram concentradas num turno e que, era paga. Ele me ouviu em silêncio, parecendo concordar. Ao final, para minha surpresa, ele me comunicou que havia, durante toda a vida, pago as melhores escolas e cursos para mim e minha irmã. Se agora, eu havia decidido estudar numa faculdade particular, tudo bem. Contanto que eu pagasse.

De início, fiquei revoltada. Afinal, como todo filho que tem tudo, eu queria continuar tendo, sem esforço. Também não tinha certeza se conseguiria trabalho, era tudo tão novo... Mas aí, mais uma vez  minha mãe veio em meu auxílio, me apresentando aos "Classificados" dos jornais. Não havia internet e a sessão de empregos aos domingos era consulta obrigatória para quem queria uma vaga em estágio, trabalho ou mesmo nos concursos públicos.

Nos "Classsificados" encontrei meu primeiro emprego, na H. Stern, no Aeroporto que ainda se chamava 2 de Julho. Lá aprendi a abrir mão de algumas coisas em benefício dos demais no ambiente de trabalho. Se por um lado via minhas amigas participando de eventos para estudantes enquanto eu trabalhava, inclusive aos finais de semana, por outro lado o mundo do trabalho cada vez mais me fascinava. Aprendi  coisas que o  curso de Administração jamais me daria.  Aprendi  a ser responsável, a me relacionar com desenvoltura, a ser disponível e dedicada. Desde maio de 79, me tornei para sempre independente.

Depois da H.Stern, ainda fui estagiária na Xerox do Brasil e no falecido Banco Econômico. Depois passei no meu primeiro concurso, na Caixa Econômica e no mesmo ano, no Banco do Brasil. O curioso é que na Caixa eu trabalhava num ambiente muito legal, era relativamente perto de casa, enfim, tudo muito tranquilo. Quando, numa quarta-feira de Cinzas, ainda no clima do Bloco Camaleão, recebi um telegrama do Banco me convocando para ir morar no interior, tendo inclusive de trancar a faculdade para isso, não pensei duas vezes. Fui. E nunca, nem por um instante, me arrependi dessa decisão ao longo destes vinte e oito anos.

Olhando para o passado, mais uma vez sou grata a meus pais, cuja exigência hoje me permite fazer planos para o futuro, quando decidir me aposentar de meu emprego estável. A sensação de missão quase cumprida se  por um lado é alegre, por outro lado vai dando uma saudade antecipada. A cada evento de despedida de colega que aposenta eu, invariavelmente, choro muito. Acho que é um dos ritos de passagem mais importantes da nossa vida. Pela forma como construi minha vida profissional, mesmo sabendo que me envolverei com mil coisas após aposentada, sei que sentirei muita saudade. Afinal, fosse ela um top, um sueter, ou uma básica, eu sempre vesti a camisa do BB.


17 comentários:

  1. Oi Vania,
    Adorei ler o relato das tuas escolhas profissionais. Interessante a opçao pelo Banco, apesar de todas as facilidades que tinhas trabalhando na Caixa. São as encruzilhadas que a vida apresenta e as opçoes que fazemos, sem muita explicaçao racional.
    beijo,
    KUKI

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  2. Pois é Kuky querida,

    na época eu fiquei tentada pela experiência de morar numa cidade que não conhecia, numa república, enfim, por uma vida nova.
    Lembro com muito carinho daquela época, dos amigos que fiz e conservo até hoje.

    Muitas emoções, sem dúvida.

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  3. Vânia,

    Como sempre, uma crônica inspiradora.
    Obrigada minha querida.
    Beijo

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  4. Colega, parabéns pela bela história de vida construída dia após dia. O tempo realmente voa e quando nos damos conta, quase nao acreditamos em tudo que passou e a gente quase nao viu. Aproveita essa refrescada e parte com a mesma garra para os próximos capítulos que com certeza a vida te reserva,
    Marco - Floripa - SC

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  5. Pois é Marco,

    agora é começar o esboço da nova vida.
    Um abraço!

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  6. Daqui a dois anos: 30 anos de Previ. Ebaaaa!
    Hj foi a despedida de Taisa e, em seu discurso, ela disse: "o trabalho dignifica o homem e danifica a mulher, e antes que eu vire um cacareco..." KKKKKKKKKK

    Essas despedidas são sempre comoventes porque vêm com uma mistura de emoções: tristeza, alegria, saudade, incerteza. Desejo que todos nós saibamos nos preparar para esse momento, em todos os sentidos.

    Cecília

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  7. Adorei o post! Parabéns! Ainda mais dois anos? Sorte do banco em ter vc por mais dois anos!! beijos

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  8. Querida Vania, não é sem motivos que você é a "polpa do cupuaçu". Parabéns por essa construção de 30 anos no BB.

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  9. Meu amigo!

    Que bom ter notícias suas!!!
    Ainda faltam dois anos e mais um pouquinho para os trinta anos de BB.
    Até breve!

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  10. Vânia,

    Com essa carreira de vida, a camisa do Banco não foi suéter nem top, foi um longo distinto, cor de pérola. Parabéns!

    Carlos Neves.

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  11. Vampinha, minha amiga! Sua coragem de mudar, de se atirar na vida, "sem medo de ser feliz", com toda a alegria e flexibilidade do seu signo de AR...faz de você essa pessoa especial! Sei que aposentada vai "aprontar" mais ainda! Vá mesmo! Abreijos, admirados, Xaxinha!

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  12. Izó, não poderia deixar de relembrar nosso tempos de república em Ubay City e as via crucis via Sulba às 17h das sextas-feiras - um dos capítulos dessa história de 28 anos.

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  13. Izó,
    como esquecer da "Sulba e desça pra empurrar?" E as muitas histórias de Uba City? Tantas, tantas!
    Beijos!

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  14. Parabéns pela biografia de vida, que sirva de exemplo a muitos.

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  15. Adorei!!!!
    Não fique triste pela futura aposentadoria. É muito bom ir ao cinema segunda feira à tarde, ir quando todos estão voltando na maior confusão(feriadão, carnaval, etc.....),não precisar negociar abono, ir ao médico e ao dentista pela manhã ou à tarde sem sentimento de culpa, etc, etc. O melhor de tudo é que a maioria das pessoas encontradas no caminho continuarão sempre no coração.
    Beijos, beijos

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  16. Texto maravilhoso!
    Devia ser objeto de pré-estibular... pura transmissão de experiência, e nesse caso, super alto-astral!

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Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...