terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reencontro


   Sempre que venho a Salvador, mesmo que por um finalzinho de semana espremido entre as atividades de Brasília, existe um programa do qual não abro mão: um mergulho nas águas do Porto da Barra. É uma das praias mais conhecidas da cidade. Pequena e cercada por fortes e diversas igrejas, possui águas claras e calmas, ótimas para o banho. Segundo órgãos de turismo, ela foi eleita uma das dez mais belas praias do mundo. Proporcionando uma visão especial para a Baía de Todos os Santos, é um local ideal para ver o por do sol. 


   Praia da minha infância e adolescência, point de famosos na década de 80, lugar que lançava moda, hoje o Porto se divide entre a praia "playground", o point de turistas e, aos finais de semana, muvuca braba, com direito a pagode, cachaça e muita, muita gente.

    Mas não existe em Salvador uma praia como o Porto.

   Numa segunda-feira silenciosa lembrei dos vendedores ambulantes que faziam parte da paisagem. "Olha o picolé da Capelinha! Moça bonita não paga, mas também não leva!" O vendedor de picolé era um acontecimento. Performático, ele fazia pequenas cenas, lembro que levava um telefone e fazia de conta que falava com famosos marcando um encontro ali, na praia. Todo mundo parava pra ver. Lembrei da rede de vôlei, sempre os mesmos jogadores, bronzeados num tom que deixaria os dermatologistas de hoje de cabelo em pé. Aliás, quem viveu os verões das décadas de 70 e 80 em Salvador e não passou ao menos uma vez na pele óleo Johnsons com Coca-cola ou suco de beterraba? E quem não saiu da praia com a pele em carne viva se achando o máximo? Por baixo do guarda sol, sentadinha na cadeira alugada, espalho meu bloqueador fator 50 e lembro que, para a quantidade de barbaridades que fiz, minha pele até que está muito boa.

  Ah, o Porto...

  Aqui minhas amigas e eu, deitadas em toalhas estendidas sobre a areia, vimos Caetano de sunga de crochê, Elba Ramalho, e tantos outros. Aqui também vimos duas moças ousarem fazer um topless e serem cercadas pelos revoltados machos de plantão que não sossegaram enquanto as coitadas não se vestiram e foram embora. Tinha de tudo, o Porto.  

   A praia era também lugar de paquera e romance. Tão bom namorar dentro d'água... Aqui estive com namorados, aqui junto com um deles decidi fazer a minha primeira viagem ao exterior: Bolívia, Peru, Machu Picchu. Aqui se decidia o que fazer no final de semana. Era um tempo em que as pessoas se conheciam, a praia era um extensão da casa, da escola, do curso de inglês. 
  
   Além do lazer óbvio, a praia era o local que eu escolhia quando queria ler algo especial. Aqui no Porto estudei para provas, concursos, li muitos livros, revistas e jornais. Houve um tempo em que fazia parte da rotina dos meus sábados comprar um jornal, descer para o Porto, leitura e mergulho intercalados, na manhã que se iniciava. Na volta, a pausa para a água de coco geladinha. Sem dúvida, uma forma deliciosa de começar um final de semana.

   Reconheço a sujeira que hoje toma conta da praia, a insegurança que nos obriga a pedir sempre a alguém que tome conta de nossos pertences quando estamos na água. Mas enfim, assim como o Pelourinho, o Porto da Barra tem lugar cativo no meu coração e nas minhas lembranças. E cada vez que mergulho nas suas águas, estou na verdade em busca de tesouros, elos partidos da minha própria história.

5 comentários:

  1. Lindo Vania....!!!!!
    Dificil achar alguem em Salvador q nunca tenha ido ao Porto...já estendi muita toalha,mas antes faziamos aquele montinho de areia para servir de travesseiro kkkkkkkkkkk.
    Mesmo com tanta coisa tentando estragar essa linda praia, ela jamais vai perder o seu encanto.
    Beijos dos amigos Iara e Jonas

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  2. Vampinhha! Me vi ali..aliás nos vi ali: eu, você e Anginho, sobre as toalhas na areia, paquerando..."por aqui agora?"..."Virá que eu vi!"(rsrs) Fugindo dos indesejáveis e rindo, rindo muito...! Bronzeadíssimas, sem medo dos raios UVAB, nem dos pivetes que passavam sem incomodar tanto! Tudo era muito bom no PORTO... e ainda é! pois as novas gerações (dos meus filhos, por exemplo) continuam curtindo essa maravilhosa praia! Ah, minha amiga! ler seus escritos me fazem um bem enoooorme! Resgata lembranças boas de se lembrar! Obrigada por partilhar conosco essas delícias! Abreijos, Xaxinha

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  3. Que viagem!!! Lembrei tanto de tanta gente agora... também ia durante a semana pra lá com minha toalha, minhas amigas da 8 de Dezembro e passei muito aquele bronzeador vermelhinho, vendido em sachês na praia...ah!HAWAII!!!! (rsrs) Também presenciei lá algo que jamais esqueci. Estávamos na areia, praia cheia, alguns rapazes batendo uma bolinha e algumas moças mais "avançadas"(olha o termo...)desfilavam em minúsculos biquínis de crochê; eles olhavam rapidamente e continuavam a jogar. De repente, o jogo parou!! Todos se espremiam num canto pra ver uma doméstica que limpava a vidraça do ap em frente, cuja saia estava ao sabor do vento!! Cada "lance" era aplaudido com entusiasmo!! Lição aprendida: melhor sugerir... de leve!! rsrssr... Bjaum, prima! Adoro tudo que vc escreve!!

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  4. Vânia, que viagem ao tempo, como me lembro destes personagens do Porto:Urubu, Henrique do picolé, Xuxa. Ainda hoje sou freguesa fiel de Grande e todos os sábados ao Porto ler uma revista ou livro e me divertir com os seus personagens. Sempre digo que a praia do Porto parece um gibi. Um beijo grande e parabèns pelos lindos textos. Teté

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  5. Recordar é viver.....
    Quando cheguei a Salvador fui morar na Barra
    Seu artigo me fez recordar os bons momentos la vividos.
    Nesta semana voltei lá pois sempre apresento o porto aos sobrinhos e amigos que vem do sul
    Todos mergulham em suas aguas limpidas e calidas
    Valeu o mergulho por meio de tuas palavras
    Beijos

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Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...