quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Ouro e a Prata de cada um


No mês passado, um colega de trabalho e um grupo de amigos realizou uma viagem fantástica, cruzando o Deserto do Atacama, Bolívia, Peru e claro, Machu Picchu. Paisagens belíssimas, desafios enormes e muitas descobertas. Entre essas, a constatação das condições sub humanas a que são submetidos os trabalhadores das minas em Potosi, na Bolívia.
 
Mesmo já tendo conhecimento do fato, não deixei de ficar bastante tocada.
Olhando as fotos da mina em Potosi e lendo a descrição das condições sub humanas a que os trabalhadores são submetidos, voltei no tempo, há quase 30 anos, quando lá estive.

Antes da viagem, havia lido "As Veias abertas da América Latina" o que, aliado ao conhecimento dos guias que contavam a triste história do roubo e saque a que o Peru e Bolívia foram submetidos, me deixaram com uma imagem bem realista do que foi a colonização espanhola naquelas bandas.
Bem, o tempo passou e eis que me vejo anos depois na Espanha.

A nossa guia era formada em arquitetura, mulher cultíssima e muito, muito entusiasmada em nos contar a história de seu país. Aconteceu então que numa das muitas igrejas visitadas, ela começa a nos mostrar as belas imagens sacras, segundo ela, decoradas com o "ouro e a prata trazidos das nossas colônias".

Caetano já dizia que "O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar?"

O fato é que voltei para Potosi, lembrei dos relatos dos guias, revias crianças de rostos queimados de sol e pés descalços. Lembrei das mães que carregam os filhos nas costas e sentam no chão para vender suas chompas multi coloridas. Lembrei dos bandos de lhamas e alpacas, que nos olham dos pontos mais altos da Cordilheira. Lembrei da pobreza, da miséria e aos poucos meus olhos de encheram de lágrimas. De início discretas, depois, aos poucos, se transformaram num choro convulsivo.

A guia, surpresa, me elogiava, era tão lindo ver alguém se emocionar com a arquitetura espanhola...

Guardei meus motivos para mim.
Ninguém daquele grupo me entenderia...
 
Recomendo a todos uma visita ao blog onde está a cobertura completa da viagem do meu amigo:

www.foradacidade.com

Um comentário:

  1. querida vania,
    havia lido rapidamente seus belos textos de 06.02. agora, relendo-os detalhadamente, tbem me emocionei com sua emoçao vivida na espanha...pois eu tive semelhante sentimento quando fui a paris, nos idos de 1990, e ao ver tanta beleza na champs elisees, tbem chorei, nao pela beleza em si que estava vendo, mas pensando na miséria e pobreza de tantos povos mundo afora que foram pelos europeus explorados e saqueados pra que tivessem aquela riqueza toda...fico p da vida qdo a imprensa burguesa tupiniquim quer a toda hora dizer que na europa o nível é outro, etc....sim, claro que é, depois de seculos de exploraçao da américa e da africa. mas aos poucos o vento está virando contra eles...
    bjs

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Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...