Brasília, 12 de junho de 2008
No ano de 2006 em função do trabalho que desenvolvia em Salvador tive o privilégio de conhecer um abrigo de idosos chamado "Abrigo São Gabriel de Idosos de Deus". Havíamos decidido “adotar” uma instituição para receber a nossa ajuda e logo na primeira visita, essa nos conquistou.
Passamos então a divulgar o trabalho ali desenvolvido e uma vez por mês recolhíamos doações com os demais colegas da empresa para repassar ao Abrigo nas nossas visitas mensais, sempre aos sábados. Assim fomos conhecendo melhor as necessidades, o histórico e funcionamento da casa. Os idosos eram carentes, geralmente abandonados pelas famílias, desprovidos de documentação. Alguns eram portadores de doenças crônicas ou com incapacidades físicas. A eles nada mais restava além da dedicação do Irmão Gabriel e dos colaboradores que ajudavam a manter a casa.
Entre os idosos, uma senhora me despertou a atenção desde a minha primeira visita.
Muito bonitinha, mais ou menos setenta anos, cabelos brancos bem curtinhos, sempre penteada e perfumada. Ela sempre se emocionava com a nossa chegada. Segurava meu rosto com as mãos e repetia um refrão que não dava para entender direito, eram sílabas repetidas ao mesmo tempo em que seu corpo balançava de um lado para outro...
As visitas se sucediam e eu me sentia cada vez mais próxima a ela.
Um dia, quando eu e minha colega chegamos ao Abrigo, percebemos que nossa amiga estava com uma agitação fora do normal, gesticulando, chorando muito.
Uma das enfermeiras se aproximou, creio que ela foi medicada e aos poucos se acalmou. Esperamos um pouco, chegamos perto dela, tentando ajudar de alguma forma.
Para nossa surpresa, ela falou com voz clara e pausada, com lágrimas nos olhos:
- Sabe o que eu queria? Eu queria era ser namorada...
De vez em quando penso naquela senhora com carinho e saudade. Afinal, nem sei se ela ainda está entre nós. E sempre no dia 12 de junho lembro daquele momento, em que uma senhora idosa abandonada num abrigo expôs o seu desejo que é na verdade o desejo de todas as mulheres.
Essa história lembra uma vez que minha mãe e eu visitamos um lar de velhinhos. Saímos de lá muito emocionadas...
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