quinta-feira, 25 de março de 2010

Fast food

Conversa entre amigos num evento social.

Um colega pergunta coisas como: "E aí, está namorando?”
Respostas evasivas, não é mais como antes, quando as coisas eram claras, simples, transparentes. Ou se estava namorando ou não se estava. A própria palavra "namoro" hoje comporta múltiplas interpretações...

Na vez dele ele responde, "Namoro não, só fast food".

Não entendo.Como assim? Como é isto? Que forma de relação é essa que nos aproxima dos hambúrgueres?

Ele explica: "Assim, dá uma saída, uma rapidinha, sem compromisso." Depois esquece.

Eu, que sou de um tempo anterior às lanchonetes em rede, me quedo pasma.
Em que momento da vida chegamos a este grau de superficialidade?
Nas conversas com mulheres de diferentes idades e classes sociais, o sonho é o mesmo: uma parceria, uma relação onde se partilhe corpo e alma, onde as camadas de recheio se empilhem de forma harmoniosa, a digestão sem complicações, sem enjôos...

Em casa, o pensamento não me abandona. Será que é isso mesmo?
Observo meu rosto no espelho.
Vejo-me disforme, percebo ingredientes que não combinam:
milho-ervilha-ovo-frito-bacon-queijo-verdade-vontade-carinho-sinceridade-transparência-respeito-amor.

As lágrimas/mostarda me escorrem pela face. Mulher do século passado, precisa de um maior tempo de maturação para liberar sabores e aromas.A temperatura do forno tem que ser a correta.Só se revela em banho-maria.

Mas ah! Hoje são outros os valores e recheios.Como se adaptar ao atendimento rápido e de baixa qualidade?Como achar normal ser empacotada, entregue, consumida e esquecida em seguida?

Ou alguém perde tempo processando a razão de ser de um X - tudo?Nestes tempos virtuais, quem se detém buscando a beleza interior de um cheeseggdog?

Desafios, desafios.Relembro situações onde de fato me senti assim, "um lanchinho".Respiro fundo, não é isso, não é isso, não é isso.

Limpo os cantos da boca, a maionese escorre junto com um desejo de que as coisas fossem diferentes, que saísse de cena o cozinheiro suado, que empilha na chapa quente ingredientes gordurosos...

E que todas nós pudéssemos encontrar nossos Chefs de cozinha...

5 comentários:

  1. Oi Vania!!
    Amei o q vc escreveu, realmente hj está um horror, pelo q ouço de amigas a sensação é esta mesmo, de sermos um mero sanduiche.
    Aí eu digo, quem já tem seu Chef de cozinha q o trate com muito amor, pois se o perdermos, quem garante q acharemos outro a altura de cuidar de nós "belos e apetitosos sanduiches".
    Beijos

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  2. Minha amiga, esse seu texto é um dos mais ricos que já li... nos faz refletir muito sobre nossas relações! Eu o tenho como guia, como alerta... sempre que quero me
    livrar da tentação, de me permitir ser mais um sanduiche de fast-foods!
    Quero continuar sendo um prato especial, pra ser digerido com calma...vagar e muito carinho!
    Valeu!
    Abreijos, Xaxinha

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  3. O texto está maravilhoso, Vânia. Ah, até que enfim vc decidiu registrar as suas aventuras no BB-Educar. Essa da noiva e do sindicalista é hilária. Sei que você ainda tem muitas outras na manga. Beijos e parabéns.

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  4. Vânia,

    Brilhante.Não apenas as relações homem/mulhertodas estão fast food. Infelizmente também estão as amizades, os relacionamentos familiares, etc.

    Parabéns!

    Leila

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  5. Excelente... e te digo mais, está cada vez pior... Não sei como será no futuro. Será que ninguém nunca mais terá relacionamentos sinceros e duradouros... sempre me pergunto isso... Beijos

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Almoços de Domingo

  Feijão, arroz, galinha assada. Feijão, arroz, carne de porco assada. Aos domingos era ou um, ou outro. Sempre. Mesmo sendo uma família...