Será o tempo que passa rápido mesmo ou será que nós, que não percebemos o seu ritmo, constantemente nos pegamos surpresos a cada fato?
Não diria exatamente que estou surpresa, mas pensando bem, esse tempo passou muito rápido. Pois já se passaram mais de trinta anos que entrei no mercado de trabalho, trinta anos que tive a minha carteira assinada.
Não diria exatamente que estou surpresa, mas pensando bem, esse tempo passou muito rápido. Pois já se passaram mais de trinta anos que entrei no mercado de trabalho, trinta anos que tive a minha carteira assinada.
Fui criada para trabalhar. Minha mãe, que sempre foi dona de casa, não queria para as duas filhas um destino semelhante. Desde crianças ouvíamos de minha mãe a expressão " quando você trabalhar" ao invés do "quando você casar". Assim fomos criadas. Casamento, se acontecesse, tudo bem. Mas o trabalho, este sim era o nosso objetivo.
Minha irmã assim que entrou na faculdade, aos dezenove anos, passou no seu primeiro concurso público. Sim, também havia isso. Como nosso pai sempre foi autônomo, minha mãe nos queria com segurança e salário no dia certo, sem sobressaltos. Então minha irmã começou a dura vida de conciliar oito horas de trabalho com as aulas na Universidade Federal, onde as aulas acontecem em todos os turnos. Ainda no segundo grau, a via chorar em casa pela perseguição sofrida cada vez que pedia ao chefe autorização para ir para uma aula ou prova. Decidi que não queria isso para min.
Bem, o ano de 1979 chegou, e com ele o vestibular. Aprovada na Federal e na Católica, fui conversar com meu pai, pois eu havia decidido que cursaria a Católica, cujas aulas eram concentradas num turno e que, era paga. Ele me ouviu em silêncio, parecendo concordar. Ao final, para minha surpresa, ele me comunicou que havia, durante toda a vida, pago as melhores escolas e cursos para mim e minha irmã. Se agora, eu havia decidido estudar numa faculdade particular, tudo bem. Contanto que eu pagasse.
De início, fiquei revoltada. Afinal, como todo filho que tem tudo, eu queria continuar tendo, sem esforço. Também não tinha certeza se conseguiria trabalho, era tudo tão novo... Mas aí, mais uma vez minha mãe veio em meu auxílio, me apresentando aos "Classificados" dos jornais. Não havia internet e a sessão de empregos aos domingos era consulta obrigatória para quem queria uma vaga em estágio, trabalho ou mesmo nos concursos públicos.
Nos "Classsificados" encontrei meu primeiro emprego, na H. Stern, no Aeroporto que ainda se chamava 2 de Julho. Lá aprendi a abrir mão de algumas coisas em benefício dos demais no ambiente de trabalho. Se por um lado via minhas amigas participando de eventos para estudantes enquanto eu trabalhava, inclusive aos finais de semana, por outro lado o mundo do trabalho cada vez mais me fascinava. Aprendi coisas que o curso de Administração jamais me daria. Aprendi a ser responsável, a me relacionar com desenvoltura, a ser disponível e dedicada. Desde maio de 79, me tornei para sempre independente.
Depois da H.Stern, ainda fui estagiária na Xerox do Brasil e no falecido Banco Econômico. Depois passei no meu primeiro concurso, na Caixa Econômica e no mesmo ano, no Banco do Brasil. O curioso é que na Caixa eu trabalhava num ambiente muito legal, era relativamente perto de casa, enfim, tudo muito tranquilo. Quando, numa quarta-feira de Cinzas, ainda no clima do Bloco Camaleão, recebi um telegrama do Banco me convocando para ir morar no interior, tendo inclusive de trancar a faculdade para isso, não pensei duas vezes. Fui. E nunca, nem por um instante, me arrependi dessa decisão ao longo destes vinte e oito anos.
Depois da H.Stern, ainda fui estagiária na Xerox do Brasil e no falecido Banco Econômico. Depois passei no meu primeiro concurso, na Caixa Econômica e no mesmo ano, no Banco do Brasil. O curioso é que na Caixa eu trabalhava num ambiente muito legal, era relativamente perto de casa, enfim, tudo muito tranquilo. Quando, numa quarta-feira de Cinzas, ainda no clima do Bloco Camaleão, recebi um telegrama do Banco me convocando para ir morar no interior, tendo inclusive de trancar a faculdade para isso, não pensei duas vezes. Fui. E nunca, nem por um instante, me arrependi dessa decisão ao longo destes vinte e oito anos.
Olhando para o passado, mais uma vez sou grata a meus pais, cuja exigência hoje me permite fazer planos para o futuro, quando decidir me aposentar de meu emprego estável. A sensação de missão quase cumprida se por um lado é alegre, por outro lado vai dando uma saudade antecipada. A cada evento de despedida de colega que aposenta eu, invariavelmente, choro muito. Acho que é um dos ritos de passagem mais importantes da nossa vida. Pela forma como construi minha vida profissional, mesmo sabendo que me envolverei com mil coisas após aposentada, sei que sentirei muita saudade. Afinal, fosse ela um top, um sueter, ou uma básica, eu sempre vesti a camisa do BB.